Sabia que o estuário do Tejo recebe anualmente 300 mil aves aquáticas? E que uma delas, o Maçarico de bico-direito, “escolhe” os meses de inverno e o estuário do Tejo para repouso migratório? E sabia também que a extensa área ocupada pelo estuário do Tejo, chega a receber 60% a 70% da população do norte da Europa, embora em números mais reduzidos, atualmente.
Para que estes números voltem a subir, o projeto internacional de conservação, “LIFE Godwit Flyway”, será constituído por diversas valências, desenvolvendo diversas acções para que a zona do estuário do Tejo continue a ser um porto seguro para o Maçarico de bico-direito.
Tem sido registada uma tendência acentuada de declínio das populações do Maçarico de bico-direito nas últimas três décadas como consequência direta da intensificação agrícola, perda de habitat, aumento de predadores e das alterações climáticas que, resultaram numa baixa taxa de reprodução e de sobrevivência.
A inversão desta tendência de decréscimo populacional é urgente para manter populações saudáveis dessa espécie, o que beneficiará muitas aves reprodutoras de campos húmidos associadas.
O programa “LIFE Godwit Flyway”, apresentado aquando do Dia Mundial das Zonas Húmidas, 1 de Fevereiro, tem um financiamento total superior a 15 milhões de euros e uma duração de sete anos. Este projeto baseia-se na experiência de um consórcio de ecologistas e conservacionistas em Portugal, Alemanha, Holanda e Gâmbia.
As acções previstas, como já referimos, têm como objectivo proteger o Maçarico-de-bico-direito (‘Limosa limosa’), “uma ave aquática migratória emblemática e cuja sobrevivência está intrinsecamente ligada à qualidade das nossas zonas húmidas”, dizem os responsáveis pelo projecto do lado português acrescentando que as ações em Portugal vão decorrer no estuário do Tejo, “a maior e mais importante zona húmida do País para aves aquáticas”, de acordo com José Alves, investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), da Universidade de Aveiro, biólogo e especialista em aves.
Os objetivos a serem alcançados são três: fortalecer e expandir as condições nas áreas de reprodução na Alemanha; restaurar habitats nas zonas húmidas da Gâmbia, destino destas aves no inverno, melhorar os habitats nas zonas de paragem migratória no estuário do Tejo.
Nesta extensa área, as ações a serem desenvolvidas compreendem a gestão das zonas de arrozal, usadas pelas aves fora da época de produção de arroz, a recuperação de antigas salinas, as salinas Saragoça, já que os tanques de produção de sal entretanto desativados, desenhados para diferentes níveis de água, são um bom habitat e por último uma intervenção nos sistemas hídricos das lagoas costeiras, “para manter um mosaico de habitats independente do regime das chuvas”.
Como suplemento a este programa, que custará 15 milhões de euros e terá uma vigência de 7 anos, estão a ser delineadas ações de divulgação e sensibilização nas escolas e nas autarquias ribeirinhas do estuário do Tejo.