ICNF proíbe observação de golfinhos no estuário do Sado em Agosto

O Estuário do Sado, em Setúbal, é lar de uma população única e preciosa de golfinhos-roazes (Tursiops truncatus), uma das três únicas populações conhecidas na Europa. Infelizmente, esta população enfrenta sérios desafios de conservação, com apenas cerca de 27 indivíduos restantes, incluindo cinco crias e alguns exemplares com mais de 40 anos.

Diante desta realidade preocupante, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) tomou medidas drásticas para proteger a população vulnerável. Durante o mês de agosto, a observação de golfinhos e a permanência de embarcações marítimo-turísticas e recreativas na entrada do Estuário do Sado estarão proibidas. Esta decisão vem na sequência de um estudo abrangente realizado em 2022, que destacou a fragilidade da população e a necessidade urgente de ações para garantir a sua sobrevivência.

A População de Golfinhos-Roazes do Estuário do Sado

O Estuário do Sado abriga uma população residente de golfinhos-roazes, uma espécie que é única no país e uma das três conhecidas na Europa. Esta população é considerada extremamente vulnerável devido ao seu reduzido número e à baixa probabilidade de crescimento até 2030.

Após uma tendência de declínio observada na década de 1990, a população de golfinhos-roazes do Estuário do Sado experimentou um ligeiro aumento a partir de 2010, com o nascimento de novas crias. No entanto, mesmo com esta melhoria, a população continua a enfrentar fatores de risco que dificultam a sua recuperação e a tornam especialmente suscetível a perturbações causadas pela atividade humana.

De acordo com os últimos dados, a população de golfinhos-roazes no Estuário do Sado é composta por cerca de 27 indivíduos, incluindo cinco crias e alguns exemplares com mais de 40 anos de idade. Esta população residente é considerada única no país e uma das três conhecidas na Europa, o que a torna ainda mais valiosa e merecedora de proteção.

Estudo de Reavaliação da Capacidade de Carga

Em 2022, o ICNF realizou um abrangente Estudo de Reavaliação da Capacidade de Carga de Observação de Cetáceos no Estuário do Sado e na zona marinha adjacente. Este estudo foi fundamental para criar as decisões de proteção adotadas pela instituição.

O estudo destacou a vulnerabilidade da população de golfinhos-roazes do Estuário do Sado, devido ao seu reduzido número e à baixa probabilidade de crescimento até 2030. Esta constatação evidenciou a necessidade urgente de medidas para mitigar os impactos negativos da atividade humana sobre estes animais.

Com base nas conclusões do estudo, o ICNF identificou a necessidade de implementar ações para reduzir a perturbação associada à presença humana na região. Estas recomendações serviram de base para as medidas de proteção adotadas pela instituição.

Proibição de Observação e Permanência de Embarcações

Durante o mês de agosto, a observação de golfinhos e a permanência de embarcações marítimo-turísticas e recreativas na entrada do Estuário do Sado estarão proibidas. Esta interdição abrange uma zona específica entre o Farol do Outão, o molhe da Marina de Tróia e a entrada do Porto de Pesca.

Além da proibição na entrada do estuário, o ICNF também estabeleceu um período de suspensão diária das atividades de observação de cetáceos entre as 13h e as 15h na restante área do Estuário do Sado e na zona marinha adjacente.

Para garantir o cumprimento das medidas de proteção, o ICNF realiza o acompanhamento da população de golfinhos no terreno, procedendo à monitorização da população e à fiscalização do cumprimento das normas e regras de observação e outras atividades desenvolvidas no Estuário do Sado.

Atividades Permitidas Fora da Área Restrita

Embora a observação de golfinhos e a permanência de embarcações estejam proibidas numa área específica do Estuário do Sado, outras atividades relacionadas aos cetáceos continuarão a ser permitidas em outras regiões.

As atividades de avistamento de cetáceos e a navegação marítimo-turística continuarão a ser permitidas na Costa da Arrábida, Costa de Tróia e restante Estuário do Sado, exceto na área restrita definida pelo ICNF, desde que respeitando as regras e normas estabelecidas para a observação de golfinhos.

Iniciativas de Sensibilização e Educação

Para além das medidas de proteção direta, o ICNF também está empenhado em promover ações de sensibilização da população local, turistas e visitantes sobre a importância da população de golfinhos-roazes do Estuário do Sado.

Através da iniciativa “Proteger os Golfinhos”, o ICNF pretende alertar a população sobre a singularidade desta população e os cuidados necessários na navegação durante o avistamento e aproximação dos golfinhos.

Estas ações de sensibilização visam envolver a comunidade local, turistas e visitantes no esforço de preservação dos golfinhos-roazes, promovendo uma maior consciencialização sobre a fragilidade desta população e a necessidade da sua proteção.

Apelos pela Proteção dos Golfinhos

Além das iniciativas do ICNF, outras organizações e figuras públicas têm se manifestado em defesa dos golfinhos-roazes do Estuário do Sado, reforçando a importância da sua conservação.

Recentemente, uma campanha organizada pela Empty the Tanks reuniu várias personalidades públicas em oposição à exploração dos golfinhos no país. Eles destacaram a crueldade de manter estes animais em cativeiro, privados da sua liberdade nos vastos oceanos.

Além dos golfinhos-roazes do Estuário do Sado, a campanha também chamou a atenção para o caso da baleia-branca Bella, que aguarda a sua libertação após ter sido mantida em cativeiro.

A decisão do ICNF de proibir a observação de golfinhos e a permanência de embarcações na entrada do Estuário do Sado durante o mês de agosto é uma medida crucial para proteger a frágil população de golfinhos-roazes que ali reside. Esta ação vem em resposta a um estudo abrangente que destacou a vulnerabilidade desta população e a necessidade urgente de ações para garantir sua sobrevivência.

A preservação da população de golfinhos-roazes do Estuário do Sado é um desafio que exige esforços contínuos e a colaboração de todos os envolvidos. Somente com a adoção de medidas de proteção eficazes e o envolvimento da sociedade será possível garantir a sobrevivência desta espécie emblemática e manter viva a riqueza natural deste ecossistema único.

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