Faleceu Sara Tavares: Que (en)cante para sempre

O ano era 1994 e uma jovem irrompe pelos ecrãs de televisão, interpretando Whitney Houston e a canção “One Moment in Time”, no programa Chuva de Estrelas. Vence o concurso. 

Concorre ao Festival da Canção, realizado no Teatro São Luiz, desse já longínquo ano com o tema “Chamar a Música” e não só o vence, como se torna a primeira artista a conseguir a pontuação máxima de todos (!) os júris do concurso. 

Um feito que até hoje permanece por igualar. 

Ultrapassado, nunca será.

Com a vitória no Festival da Canção, Sara Alexandra Lima Tavares, Sara Tavares no mundo da canção e da nossa memória colectiva, representa-nos em Dublin, República da Irlanda, na Eurovisão da Canção. 

Não o vence, tendo a sua interpretação conquistado o 8º lugar. 

Ainda assim, e até à vitória de 2017, é a única vez que a canção de Portugal não sai da primeira metade da classificação, tendo chegado a figurar nos 3 primeiros lugares entre 25 países.

Mais um feito, feito de talento, voz cristalina, delicada e forte.
Um feito num país conhecedor da sua música, muitos anos antes das redes sociais e do streaming. 

Depois da brilhante prestação no decano dos festivais musicais televisionados, Sara Tavares, lança em 1996 o seu primeiro álbum:
“Sara Tavares & Shout!”, que dá início à sua carreira discográfica.
Seguem-se “Mi ma bô”, em 1999, “Balancê”, em 2005, “Alive! In Lisboa”, gravado ao vivo em 2008. 

A viragem da década traz um novo álbum “Xinti”, em 2009.
Infelizmente, é também nesse ano que lhe é diagnosticado um tumor no cérebro que obriga Sara Tavares a interromper a sua profícua carreira durante 8 anos. 

O regresso dá-se em 2017 com o álbum “Fitxabu”, no qual aprofundou a relação com a música cabo-verdiana, a música das suas raízes e que contou com a participação de Manecas Costa, Nancy Vieira, Toty Sa’Med e Kalaf Epalanga. 

É “Fitxabu” que, em 2018, lhe vale a nomeação para o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa.
Este ano, ainda em setembro, lança o single Kurtido. 

A carreira de Sara Tavares não se confinou apenas à sua carreira individual.
Espraiou a sua voz e o seu talento por diversas colaborações e projectos com outros artistas portugueses e lusófonos, como por exemplo Ala dos Namorados, Dany Silva, Paulo Flores, Buraka Som Sistema, Slow J e Carlão.

Trinta anos são sempre pouco. 

Demasiado pouco para uma vida, uma carreira, um talento que há muito era Voz na canção portuguesa e lusófona. 

Em Portugal e muito para além deste, Sara Tavares, granjeou admiração e carinho. 

Pelo talento e na doença. 

As reações ao seu falecimento são também testemunho da marca que Sara Tavares construiu e nos deu, por tão transversais e sentidas que são.

Catarina Furtado, anfitriã do concurso em que Sara Tavares despontou, afirmou nas redes sociais: “Não tenho palavras. Só memórias. As melhores. A Sara. A Sara. Tão única. Tão completa. Tão cedo…”, escreveu a apresentadora. “As lágrimas que me correm são de um amor eterno.

Ouçam-na. A sua música. As suas palavras. A sua doçura. Guardem o seu mistério. Para sempre, Sara.”

A historiadora, investigadora e antiga deputada da Assembleia da República, Joacine Katar Moreira, manifestou o seu pesar na rede social X, antigo Twitter, com as palavras :“Uma luz para todas nós, meninas negras. Todas nós vimos na tua figura brilhante e potente como nunca tinha acontecido”, escreveu. “Serás para sempre esse brilho que nos trouxeste. Essa voz de ouro que contrastava com uma vida difícil”.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reagiu a esta notícia assinalando o “reconhecimento pela sua vocação, dedicação e determinação”.

O seu homólogo cabo-verdiano, José Maria Neves, reagiu, sublinhando que a figura da cantora Sara Tavares continuará presente, “como luz que alumia caminho”.

No mundo da música, Pedro Abrunhosa, em declarações à Rádio Observador afirmou: “A Sara deixa um legado de humildade, de verticalidade, de dedicação à causa feminina e à causa feminina africana, de dignificação da música africana em Portugal e da música portuguesa de ascendência africana”.

O cantor e amigo Paulo Flores recorda Sara Tavares como uma guerreira. “Era uma luz que nos iluminava a todos.” Era uma “guerreira com uma doçura incrível”, afirmou.

São muitas, inúmeras, as homenagens a Sara Tavares, a menina que cresceu no Pragal, que nos deixou ao início da noite do passado domingo. 

Que (en)cante para sempre.

PARTILHE NAS REDES
Também poderá gostar de
Feira de Natal na Sobreda
Cultura

Está a chegar a Feira de Natal na Sobreda

A Feira de Natal da Sobreda é um evento que transforma a localidade num verdadeiro cenário festivo, celebrando a magia do Natal com...

terra de eficiência financeira
Atualidade

Grândola, uma terra de eficiência financeira

A câmara municipal de Grândola (CMG) obteve a melhor pontuação no ‘ranking’ dos municípios de grande, média e pequena dimensão com melhor eficiência...

O Pintinho Feio
Cultura

O Pintinho Feio: Um Espetáculo de Inclusão e Imaginação em Setúbal

O teatro é uma forma poderosa de comunicação, especialmente quando se trata de envolver o público jovem. O espetáculo “O Pintinho Feio”, da...