O Teatro Estúdio Fontenova volta a surpreender o público setubalense com uma nova criação que promete fazer pensar. “O Erro de GPTO ou as Mentiras de PI” estreia a 14 de novembro, no Fórum Municipal Luísa Todi, e fica em cena até 23 de novembro de 2025.
A nova produção da companhia setubalense explora temas contemporâneos e desafiantes como identidade de género, inteligência artificial e a humanização da máquina, num espetáculo provocador e visualmente intenso.
Um texto de Rosa Dias, encenado por José Maria Dias
A autoria do texto é de Rosa Dias, atriz, dramaturga e mulher trans, que propõe uma reflexão sobre o que significa “ser humano” num mundo onde as fronteiras entre o biológico e o tecnológico se esbatem. A encenação está a cargo de José Maria Dias, diretor artístico do Teatro Estúdio Fontenova, e a interpretação é de Ren D-Marcus, selecionado entre candidatos trans e não-binários num processo de audições abertas.
“O Erro de GPTO” inspira-se livremente na história de Pinóquio, reimaginada sob a lente da era digital. O protagonista, PI, questiona a própria natureza da existência: “Para medir um círculo, começa-se num ponto qualquer. E para medir uma pessoa, por onde começar? Pelos pés, pelas mãos, pelo umbigo ou pela cabeça?”
A peça convida o público a refletir sobre como a sociedade define o que é “normal”, o que é “erro” e o que significa “corrigir” um corpo ou uma identidade.
Entre o humano e o digital
Com uma estética que combina teatro físico, movimento e música original, o espetáculo transforma o palco num espaço onde o corpo é código e o código é corpo. O cenário e a conceção plástica são assinados pela equipa criativa do Fontenova, com Ana Rodrigues e Ivan Castro na direção artística e Rafael Barreto na coordenação coreográfica. A música original de João M. Mota cria uma paisagem sonora inspirada em ambientes de ficção científica, entre o real e o virtual, evocando universos cinematográficos como “Blade Runner”.
“O Erro de GPTO” é mais do que um espetáculo — é uma experiência sensorial e filosófica. O público é desafiado a pensar sobre a fragmentação da identidade e sobre a forma como os sistemas tecnológicos condicionam a perceção do que é humano. Como explica a própria companhia, “não se pretende oferecer respostas, mas abrir espaço ao diálogo inclusivo sobre género, identidade e liberdade.”
Uma aposta da cultura setubalense
Esta nova produção reforça o papel do Teatro Estúdio Fontenova como uma das companhias mais consistentes e inovadoras da região de Setúbal. Conhecida pelo seu compromisso com a criação contemporânea e pela atenção às questões sociais, a companhia volta a transformar o palco num lugar de pensamento crítico e arte participativa.
O espetáculo integra-se na política cultural do concelho, que tem apostado fortemente no Fórum Municipal Luísa Todi como espaço de encontro entre artistas e público.
Ao mesmo tempo, esta estreia reafirma a importância da produção artística local como motor de identidade cultural e diálogo social.
Datas, bilhetes e evento paralelo
“O Erro de GPTO ou as Mentiras de PI” estará em cena de 14 a 23 de novembro, com sessões de quarta a sábado às 21h00 e aos domingos às 16h00. Os bilhetes custam 8 euros, com preço reduzido de 6 euros para estudantes, desempregados, profissionais do espetáculo, menores de 25 e maiores de 65 anos. As reservas podem ser feitas através da bilheteira do Fórum Municipal Luísa Todi ou através da Bilheteira Online.
Como complemento ao espetáculo, no dia 15 de novembro, às 16h00, realiza-se o lançamento do livro “O Erro de GPTO ou as Mentiras de PI” na Livraria Culsete, com a presença de Rosa Dias, Luísa Monteiro e Dani Filipe Bento.
Um espetáculo para ver, sentir e discutir
“O Erro de GPTO” é uma viagem poética e inquietante sobre a forma como o ser humano se constrói — e se reconstrói — entre algoritmos e emoções. Ao fundir arte e pensamento, o Teatro Estúdio Fontenova convida o público a olhar o “erro” não como falha, mas como possibilidade.
Num tempo em que a tecnologia se confunde com a nossa própria pele, o espetáculo propõe uma pergunta que ecoa para lá do palco: seremos nós os verdadeiros criadores, ou apenas as criações que ainda tentam compreender o seu código?



