Teatro em Setúbal Revela Histórias Escondidas pela Ditadura

O Teatro Estúdio Fontenova (TEF) traz à cena uma peça que promete instigar reflexões profundas sobre um dos períodos mais obscuros da história portuguesa. Com a estreia marcada para 15 de novembro, “Qual Estado da Nação?” aborda a temática da mendicidade durante o Estado Novo, explorando a realidade de um albergue que servia como prisão para aqueles considerados indesejáveis pela sociedade da época.

O que foi o Estado Novo?

O Estado Novo foi um regime autoritário que prevaleceu em Portugal de 1933 até 1974. Sob a liderança de António de Oliveira Salazar, o governo implementou uma série de políticas que visavam manter a ordem social e a moralidade, frequentemente à custa das liberdades individuais. A repressão política, a censura e a vigilância eram comuns, e muitos cidadãos foram silenciados pelas suas opiniões ou condições sociais.

A Mendicidade e o Albergue da Mitra

No contexto do regime, a mendicidade era vista como um problema que precisava ser erradicado. O Albergue da Mendicidade da Mitra, em Lisboa, foi criado para esconder aqueles que eram considerados “indesejáveis”: pedintes, doentes mentais e outros marginalizados. Esta instituição abrigava mas também controlava e silenciava os que ali se encontravam, refletindo a política de exclusão do Estado Novo.

A Repressão e o Silenciamento

A prática de prender indivíduos sem julgamento ou recurso era comum. As autoridades utilizavam o albergue como uma forma de “limpar” as ruas de Lisboa, escondendo a pobreza e a marginalização sob o manto da “ordem pública”. Este ciclo de repressão e silenciamento é um dos focos centrais da peça “Qual Estado da Nação?”.

Uma Abordagem Dramática e Reflexiva

A peça, com texto original de Luísa Monteiro e direção de José Maria Dias, busca desmistificar a realidade do Albergue da Mendicidade. Através de histórias de homens, mulheres e crianças que sofreram sob o regime, o TEF propõe uma reflexão sobre as consequências sociais da ditadura e a importância de dar voz aos silenciados.

A narrativa da peça é construída a partir de relatos que foram, por muito tempo, ignorados ou esquecidos. O TEF revela “estórias tímidas, outras sem filtro, ora sussurradas, ora gritadas”, trazendo à luz a complexidade das vidas afetadas pela repressão.

A música original de João M. Mota, junto com a interpretação da voz de Cátia Mazari Oliveira, adiciona uma camada emocional à apresentação.

Detalhes da Apresentação

“Qual Estado da Nação?” estará em cena no Fórum Municipal Luísa Todi de 15 a 24 de novembro, com sessões diárias às 21h00, exceto no dia 17, quando será apresentada às 17h00. Uma sessão especial para escolas está agendada para o dia 19, às 15h00, e uma apresentação com audiodescrição ocorrerá no dia 24, às 17h00.

Os bilhetes estão disponíveis no Fórum Luísa Todi e aqui, com preços a partir de oito euros para o público geral e seis euros para estudantes, desempregados, profissionais do espetáculo e idosos.

“Qual Estado da Nação?” é mais do que uma simples peça de teatro, é um convite à reflexão sobre a história de Portugal e as suas repercussões. O TEF convida o público a se envolver com as narrativas de vidas que foram afetadas pela repressão, promovendo um diálogo necessário sobre a memória e a dignidade.

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