Quem entra naquela inóspita rua de armazéns, estaria longe de adivinhar que ali se faz um dos melhores leitões da região. Não que seja propriamente secreto, até porque a partir de meio da rua começa-se a avistar a frota de carrinhas, com rimas estampadas e a placa a anunciar “Bacorinho”.
No interior d’O Bacorinho, é impossível não ficar impressionado com a verdadeira linha de produção que existe. Quem esperava ver apenas um senhor simpático a virar leitões no forno, vai ficar espantado… também há senhores simpáticos a virar leitões, atenção, mas antes de lhes chegar já o leitão foi recebido, pesado, catalogado e temperado, num processo preparado ao pormenor, para evitar falhas.
Fomos conhecer Hélio Gaspar, um menino que aos oito anos dizia que quando fosse grande queria ser “empresário de porcos”, como o pai, e hoje dá emprego a cerca de uma centena de pessoas, com o Gestgasp Group, empresa dona do Bacorinho e da famosa cadeia de churrasqueiras de Setúbal, Frango Vaidoso.
Como é que em Setúbal se abre um forno de leitão à moda da Bairrada?
A zona do Poceirão, Lagameças, etc., é uma zona muito dedicada à pecuária e onde o meu pai tinha o seu negócio de exploração de porcos. Cresci nesse meio e com o meu pai como grande referência, a ver como era um homem importante na região e ajudava tanta gente. Infelizmente, faleceu quando eu tinha dez anos e o negócio, que estava tão dependente dele, começou a afundar. Aos 18, assumi o negócio de família, com apenas uma pequena exploração de porcos e uma carrinha velha e tive de fazer pela vida. Comecei a contactar fornos da região da Bairrada para vender os meus leitões e a ir para lá com a carrinha carregada, só regressava depois de me pagarem porque não tinha dinheiro para o gasóleo para regressar. Aos poucos as coisas foram-se compondo, fui pagando as dívidas e quis dar o salto. Então, com os conhecimentos adquiridos nestas viagens, resolvi começar o meu próprio negócio de leitão assado, em Setúbal, em 2003 e em 2010 consegui ter o meu próprio forno.
O seu pai foi uma referência muito importante para si?
Foi. O meu herói, ainda hoje. Não só por quem foi como empresário, mas por quem foi como homem, porque ajudou muita gente na região. Mesmo depois de ter partido, os valores que me deixou e os ensinamentos que ficaram, não me deixaram baixar os braços mesmo nos momentos mais difíceis e, ainda hoje, tenho colaboradores no Bacorinho que trabalharam para ele e me conhecem desde criança.
Como é que um jovem de 18 anos se torna empresário e como foi esse percurso até aqui?
Uma montanha-russa. Tive períodos muito felizes e outros em que só me apetecia atirar-me da serra. Aos 18 anos não estava preparado e cometi muitos erros, fruto da imaturidade e inexperiência. Não que hoje não cometa erros também, mas tento sempre que sejam erros novos. Ser empresário é isso mesmo, cair, levantar e continuar a caminhar. Tive a sorte de me rodear das pessoas certas, de aprender com os melhores e de ter uma boa equipa, o que ajuda a que sempre que caio, há várias mãos que me ajudam a levantar.
Aposta muito na formação da equipa e na progressão dentro da empresa. Acha que é uma das chaves do sucesso do GestGasp Group?
Tenho a certeza. Uma empresa são as pessoas! A única coisa que não se aprende é o caráter, quando apanhamos pessoas de bom fundo, interessadas, dedicadas e com vontade de aprender, temos é de apostar nelas. Tenho muitas pessoas em cargos de liderança que cresceram dentro da empresa, porque prefiro que quando os outros colaboradores olhem para eles vejam um líder ou um exemplo a ser seguido e não uma pessoa que teve mais possibilidades para estudar. Os cargos ensinam-se, a atitude não.
Fale-nos um pouco do Bacorinho. Que tipo de empresa é? O que vende?
A nossa especialidade n’O Bacorinho é o leitão assado, à moda da Bairrada, que entregamos em toda a Grande Lisboa, ainda quente e com a pele estaladiça. Temos, além disso, outras especialidades como o frango do campo, a entremeada, borrego e cabrito, tudo assado em forno a lenha, feito a pedido para ser entregue em casa do cliente.
E não tem um restaurante?
Não. Somos parceiros de vários restaurantes, temos o nosso salão, onde fazemos eventos privados e uma food truck, que levamos para feiras e festas locais. O restaurante é um projeto para o futuro.
E o Frango Vaidoso, como apareceu?
O Frango Vaidoso já existia e tinha um bom nome em Setúbal. Tinha uma boa relação com os anteriores donos e assim que surgiu a possibilidade, comprámos a marca. Mantivemos a equipa (claro que ao longo dos anos, foram entrando e saindo pessoas, como em qualquer empresa) e gradualmente fomos implementando alterações, fazendo o rebranding e modernizando os processos. Hoje temos três churrasqueiras, no Bonfim, na Camarinha e no Bairro do Viso e somos uma marca de referência em Setúbal.
Por último: Ainda gosta de leitão, ou já se fartou?
Claro. Todas as semanas como leitão, pelo menos uma vez.