Festa da Ilustração regressa a Setúbal com liberdade, memória e resistência

“A Liberdade não é negociável. Este é o conteúdo e a mensagem da Festa da Ilustração, uma condição que a Câmara Municipal de Setúbal sempre teve neste evento.” Foi assim que o presidente da autarquia abriu a conferência de imprensa de apresentação da 11.ª edição da Festa da Ilustração.

Sob o mote provocante “É Preciso Fazer um Desenho?”, o evento regressa à cidade entre outubro e dezembro, com perto de uma dezena de exposições, oficinas e atividades paralelas. Uma programação que volta a afirmar a ilustração como espaço de atitude, denúncia e reflexão.

Duas grandes convidadas e múltiplos olhares

Entre os destaques do cartaz estão as mostras das artistas convidadas. Rachel Caiado, ilustradora portuguesa, apresenta “Salvar o Tempo” na Galeria de Exposições da Casa da Cultura, de 3 de outubro a 30 de novembro. Já a convidada estrangeira, Yara Kono, traz a exposição “Aqui é um Bom Lugar”, patente no mesmo espaço e nas mesmas datas.

Mas a Festa espalha-se por vários locais e oferece diversidade. Na Livraria Culsete, André da Loba, vencedor do Prémio Nacional de Ilustração 2025, expõe “Contos Cantados”. Na A Gráfica, a mostra “Ilustração Portuguesa” dá palco a trabalhos recentes de autores nacionais.

O Museu do Trabalho Michel Giacometti recebe “O Cruciverbalista”, de Paulo Novo e Paulo Freixinho, evocando os 100 anos das palavras cruzadas em Portugal. Já a Casa Bocage acolhe “Bug”, de André Ruivo, enquanto a Galeria Municipal do 11 apresenta “Zé: Sempre o Mesmo”, uma mostra de Jorge Silva em homenagem a Rafael Bordalo Pinheiro pelos seus 150 anos.

No Museu de Setúbal/Convento de Jesus, Evanthia Tsantila e Luís Tibério exploram as comunidades piscatórias em “Vidas entre o Mar e a Terra”. E as bibliotecas de Setúbal e Azeitão exibem “Cartazes Ilustrados”, cedidos pela Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas.

Oficinas, cinema e conversas

A Festa da Ilustração não se esgota nas exposições. Haverá também espaço para oficinas e cinema.

Nos dias 7 e 8 de outubro, a Casa da Cultura recebe “Viagens à Volta de uma Linha”, oficina dirigida por Cláudia Nóvoa e Rachel Caiano, destinada a famílias e alunos do primeiro e segundo ciclos.

No dia 11 de outubro, a Casa das Imagens Lauro António apresenta uma sessão de curtas-metragens de André Ruivo, seguida de conversa com o autor, reforçando a ligação entre ilustração, cinema e comunidade.

Um evento com memória e resistência

Durante a apresentação, o vereador Pedro Pina destacou que a Festa é “mais do que um conjunto de exposições”. Para o autarca, trata-se de um evento que “tem feito um trabalho de dessacralização de espaços, homenageando e reconhecendo publicamente artistas consagrados, nacionais e estrangeiros”.

Pina recordou ainda a génese da iniciativa: os atentados de janeiro de 2015 ao jornal satírico francês Charlie Hebdo, que vitimaram vários ilustradores. “Certamente que, quando nos moveram os acontecimentos do Charlie Hebdo, não pensaríamos que, em 2025, a Festa da Ilustração estivesse integrada num contexto político no nosso país, na Europa e um pouco por todo o mundo com estes contornos preocupantes”, afirmou.

A resistência, sublinhou o vereador, é parte essencial da identidade do evento: “Temos resistido aos ímpetos e continuaremos a afirmar a Festa da Ilustração como uma marca indelével daquilo que é o olhar que temos para a Cultura em Setúbal.”

Ilustração como atitude

O curador da Festa, José Teófilo Duarte, foi claro: “A ilustração não é um simples ornamento. É atitude, denúncia e preocupação sobre o que está a acontecer.” Considerando a Festa de Setúbal “um dos maiores eventos do mundo na área da ilustração a nível de dimensão expositiva”, Duarte reforçou a ideia de que este é um espaço de encontro entre arte e cidadania.

Essa dimensão social esteve também presente nas intervenções dos artistas. Paulo Freixinho, que apresenta “O Cruciverbalista”, destacou o impacto das suas dinâmicas de palavras cruzadas em escolas. Já Luís Tibério, que com Evanthia Tsantila assina “Vidas entre o Mar e a Terra”, afirmou: “Parece que nada tem que ver com ilustração. Mas tem. E tem, sobretudo, muita atitude, até pela função social da arte.”

Setúbal como palco

Com exposições espalhadas pela Casa da Cultura, Casa Bocage, Museu do Trabalho Michel Giacometti, Galeria Municipal do 11, A Gráfica, Museu de Setúbal/Convento de Jesus, Livraria Culsete e bibliotecas municipais, a Festa da Ilustração transforma Setúbal num imenso caderno de desenhos.

De outubro a dezembro, a cidade volta a afirmar-se como referência internacional nesta área artística, numa programação que combina memória, crítica e celebração.

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