Dois livros recentemente publicados pela Câmara Municipal de Setúbal, escritos pelo historiador Diogo Ferreira, trazem à tona a história de dois setubalenses que foram vítimas da repressão do Estado Novo. “O 17 de fevereiro de 1934 – O assassinato do operário setubalense Fernando Pedro Gil” e “José Manuel Alves dos Reis (1894 – 1943): O setubalense que perdeu a vida no Campo de Concentração do Tarrafal” são resultado de uma extensa pesquisa realizada por Diogo Ferreira, que também é técnico municipal.
O Assassinato de Fernando Pedro Gil
Fernando Pedro Gil, um jovem operário conserveiro de apenas 19 anos, foi brutalmente assassinado a 17 de fevereiro de 1934. Na época, fazia parte de um grupo de trabalhadores, principalmente mulheres, que protestavam contra a falta de pagamento do subsídio de defeso. O protesto ocorreu em frente à delegação local do Consórcio Português de Conservas de Sardinha, na Avenida Luísa Todi, em Setúbal.
A manifestação tornou-se rapidamente caótica, com insultos e tentativas de invasão ao prédio. Quando a Polícia de Segurança Pública (PSP) chegou ao local, começaram a dispersar os manifestantes, disparando tiros para o ar. Infelizmente, um desses tiros atingiu Fernando Pedro Gil, resultando na sua morte. Este evento trágico representou um dos dias mais dramáticos de repressão política vivenciados pela cidade de Setúbal.
José Manuel Alves dos Reis e o Campo de Concentração do Tarrafal
José Manuel Alves dos Reis, ligado à esquerda anarquista, foi preso e enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde. Foi acusado pelo regime de distribuir imprensa clandestina e de transportar explosivos na sua mala. As publicações de Diogo Ferreira apresentam fotos, registos de batismo, excertos de cartas, artigos de jornais, editais e testemunhos, além da ficha individual do recluso.
Um dos capítulos do livro “José Manuel Alves dos Reis (1894 – 1943): O setubalense que perdeu a vida no Campo de Concentração do Tarrafal”, intitulado “A Agonia no Campo da Morte Lenta”, relata o horror vivido por José Manuel Alves dos Reis durante o seu tempo na prisão. O capítulo também apresenta conteúdos do livro “Tarrafal, aldeia da morte – O Diário da B5”, escrito por Manuel Francisco Rodrigues.
A Importância das Publicações
As publicações dos livros de Diogo Ferreira, realizadas no âmbito do projeto municipal Venham Mais Vinte e Cinco, são uma oportunidade para que os leitores conheçam alguns dos nomes que sofreram com os crimes do Estado Novo. Além disso, ajudam a compreender o papel fundamental que a Revolução teve na conquista de direitos. Estes livros tornam-se também recursos valiosos para a valorização futura do território, preservando a memória histórica de Setúbal e destacando as lutas enfrentadas pelos seus habitantes.
Os livros de Diogo Ferreira lançam luz sobre a repressão do Estado Novo a dois setubalenses corajosos que se opuseram ao regime. Através de uma intensa investigação histórica, o autor revela as histórias de Fernando Pedro Gil e José Manuel Alves dos Reis, mostrando o preço que pagaram pelas suas convicções.
Não podemos esquecer o passado e devemos valorizar o conhecimento histórico para construir um futuro melhor. Os livros de Diogo Ferreira são uma contribuição significativa nesse sentido, trazendo à tona histórias que merecem ser contadas e compartilhadas.